segunda-feira, 7 de setembro de 2015

COMENTÁRIOS AO PODCAST DO UNIVERSOHQ SOBRE CENSURA



Por:Hds

Nota inicial: Recomendo ouvir o podcast (ou pelo menos partes dele) antes da leitura.



Existem duas situações em que o mundo do entretenimento dos quadrinhos se encontra.Uma delas é o estado natural de repouso,onde podemos ler e comentar as histórias com outras pessoas que compartilham do mesmo hobby.Podemos nos entusiasmar com eventos e acontecimentos excitantes das histórias.Com personalidades que atraem nossa atenção pelo seu talento.Ou simplesmente discutir sobre quem é mais forte;Super-Homem ou Hulk.Nessas e em muitas outras ocasiões estamos livres e despreocupados aproveitando tudo o que existe de melhor no mundo ocidental em matéria de distração.

Na segunda situação somos abruptamente arrancados de nossa calmaria e satisfação por verdadeiros cães raivosos.Indivíduos dos quais nunca ouvimos falar vociferando regras e ordens arrogantes.Apontando o dedo na cara de qualquer um que considerem errado e acusando-os de cometer crimes que só eles conseguem enxergar.São os malditos histéricos do mundo “adulto e politizado”,que até então você nunca tinha ouvido falar antes deles meterem as patas sujas no seu passa-tempo preferido.

Pode ser um político falsamente moralista e boçal.Um grupo de senhoras religiosas desocupadas.Feministas incomodadas até com o gás carbônico masculino que elas tem que respirar.Educadores tacanhos que incomodam crianças com seu fetiche doentio pela “moral educativa”.Apresentadores e Jornalistas completamente dissimulados e vigaristas,que pela simples falta de vergonha atacam da forma mais escandalosa e irresponsável o produto de consumo de pessoas comuns.Usando o poder de imbecilização das emissoras de TV,de rádio,revistas,jornais e sites como uma arma contra a liberdade de entretenimento popular.O purismo covarde e conveniente das empresas que produzem atrações.E é claro,a vigília ignorante vindo de dentro de casa e também dos próprios leitores de quadrinhos.

Em todos os casos citados temos gente nociva e controladora provocando danos gigantescos e difíceis de serem reparados em qualquer indústria.Esses episódios são historicamente cíclicos.E embora partam de lugares diferentes causam sempre os mesmas reações da comunidade dos quadrinhos.

Tendo em vista que este é um assunto cansativamente recorrente para os leitores de qualquer idade e grau de informação,resolvi fazer uso do caso mais recente para trazer algumas opiniões.Não escolhi o podcast do site UniversoHQ por acreditar na relevância e importância do mesmo na abordagem do assunto.Mas sim por servir ao propósito do comentário.Então vejamos o que foi discutido:

Os participantes do Confins do Universo,que no caso são Sidney Gusman,Samir Naliato,Sérgio Codespoti e Marcelo Naranjo começam falando do acontecimento mais recente.A queixa da estudante Tara Shultz sobre as HQs Persépolis,Sandman,Fun Home e Y The Last Man entre outras que seriam impróprias para a biblioteca de seu colégio.

Depois disso eles são “forçados” a entrar no velho e batido assunto do Comics Code na época da EC Comics e o livro Seduction of the Innocent,discorrendo sobre os clichês que normalmente vem acompanhados desse tema.Tema esse do qual prefiro retirar somente alguns fatos notórios.Como o início da indústria da auto-promoção que existe até hoje nos EUA(vide o exemplo do oportunista Jack Thompson)que incluem advogados,funcionários de escolas e universidades,psicólogos de programas de baixaria e os ditos “profissionais da área”.Que curiosamente estão sempre abertos a receber dinheiro e espaço na mídia para falar merda sobre qualquer coisa da qual não entendam joça nenhuma.
Sempre envolvidos por uma fajuta “aura” de razão amparadas pelas suas “opiniões técnicas” e seus diplomas que normalmente não serviriam nem pra papel-higiênico.A coragem de Bill Gaines ao enfrentar o julgamento inquisitivo dos dementes puritanos.A atitude completamente covarde e mesquinha da DC,Marvel e outras editoras ao recuarem criando por conta própria um “código de conduta “ que prejudicaria tão somente elas mesmas.E por fim a perene e famosa histeria coletiva americana que atravessa sua cultura desde tempos antigos.

Seguindo no quesito de censura temos fábulas sobre o início dela no território nacional.Onde, como de costume,o Brasil se mostrou disposto a copiar seletivamente o que existem de pior na cultura de repressão Americana e Européia.Cabe aqui um comentário ao empresário Adolfo Aizen,que segundo os locutores foi inteligente ao se antecipar à onda de censura que sabia estar por vir.Aizen publicou revistas com histórias comportadas e educativas.Abrasileirou(isso significa que estragou algo vindo de fora!)conteúdo vindo dos EUA e popularizou  adaptações de obras literárias brasileiras(pois é,e você aí pensando que essa torrente de títulos medíocres baseados em romances chatos de Machado de Assis,Guimarães Rosa entre outros autores eram exclusividade do mercado atual...).

O mais estranho é constatar essa “inteligência” da qual falam os integrantes do programa só veio depois da pressão da sociedade e das circunstâncias desfavoráveis que obrigaram Adolfo Aizen a fazer malabarismo para publicar algo considerado aceitável naquela situação.Belo progresso para constar na trajetória dos quadrinhos no Brasil!

E provando que as editoras daqui também podem ser tão bundas-moles como as estrangeiras,a mesma EBAL de Aizen criou um selo regulatório.Tivemos até um código com 18 artigos assinados por todos os grandes donos de editoras como;Abril,Rio Gráfica,Ebal e O Cruzeiro ainda na década de 60.Falava-se até em cotas para o quadrinho brasileiro.Qualquer semelhança com o tempo funesto em que vivemos hoje não é coincidência.

Continuando temos menções  aos “anos de chumbo” com aquela velha ala dos cartunistas “engajados” como;Ziraldo,Jaguar e Henfil que são aclamados como heróis ainda hoje pelos palermas viciados em discursos encrenqueiros hipocritamente revolucionários.Não é a toa que boa parte deles hoje aproveitam de uma velhice pró$pera e reconhecimento dos meios de comunicação puxa-sacos de sempre.

Saindo do Brasil,temos agora o quadro da censura na Europa.É importante frisar que nela se passaram episódios mais grotescos de censura,muitas vezes com o total apoio da população.É bastante comum no velho continente(tanto na parte oriental como na ocidental)encontrar barreiras ao mais variados tipos de revistas,jogos,brinquedos,filmes ,séries de televisão e etc.Quer tentar puxar pela memória quantas vezes você já ouviu falar de um Grand Theft Auto ou anime violento ser barrado na Europa por conter temática adulta?Não dá pra aceitar que justamente nos países que possuem um acúmulo de cultura que atravessam milênios e por isso deveriam ter uma mentalidade mais avançada,é onde se vê a mais nojenta postura passiva e condizente com o politicamente correto.

E se estamos falando de estupidez e idéias idiotas por parte da sociedade não podemos deixar a França(um dos piores países nesse quesito)de fora.Então chegamos ao Charlie Habdo.Jornal com charges que hora acertavam hora erravam feio no alvo de críticas.Não quero entrar no terreno lamacento desse assunto,mas se o jornal costumava ser regularmente elogiado por muitos da imprensa daqui isso não é um bom sinal.

Aproximando-se do fim do Confins do Universo fica a impressão(bem clara)de que em nenhum momento o espinhoso discurso sobre censura e os inúmeros e desgastantes acontecimentos ligados a ela foi devidamente evoluído.Relatos foram feitos.Falou-se bastante sobre a ditadura e as manobras para escapar dela.Sobre as proibições tacanhas dos profissionais de editoras americanas.Das personalidades mais prejudicadas pelos cortes e perseguições.Diferenças entre os lugares e culturas onde houve algum veto.Mas no fim das contas a opinião dos participantes ficou escondida na velha mentalidade do “deixa quieto”,fraca e concordante com o senso comum.

Enquanto não pensarmos e agirmos de forma direta(e isso definitivamente não inclui nenhuma  “militância" ou "luta” cretina do tipo)ficaremos presos num eterno ciclo de repetição.Alguém morre e isso acaba sendo forçadamente relacionado aos quadrinhos,como no crime em que uma edição de Sandman foi encontrada ao lado de um corpo e o autor Neil Gaiman teve que se explicar como se a culpa fosse dele.Um maníaco atira num cinema dizendo que é o coringa e retrocedemos em décadas na noção de” revistas não são responsáveis por coisas desse tipo”.Grupos de pais acusam desenhos e histórias de conter pornografia e violência que influenciam seus filhos.Programas de TV fazem matérias venenosas sobre HQs sempre que a audiência está baixa ou por puro policiamento antiquado e teatral .Somos surpreendidos por políticos que volta e meia aparecem com leis e projetos pré-históricos tentando proteger as crianças e adolescentes. E  a única reação mostrada é a de uma moleque chorão que tem seu brinquedo quebrado,sua diversão tirada e se encolhe com medo murmurando reclamações que não vão surtir efeito nenhum!

Que tal se só pra variar tomássemos a dianteira e procurássemos esses tipinhos repulsivos que andam perseguindo e linchando os quadrinhos antes que eles fizessem isso?Talvez não seja o caso de se criar um grupo como o Comic Legal Defense Fund,mas acionar meios legais contra as proibições.Pessoas que possuem meios de divulgar opinião favorável às Hqs devem usá-los para antecipar textos tendenciosos.Criticar justamente canais de TV que insistem em denegrir esse meio.Desmentir e expor certas figurinhas tidas como “abalizadas” que até então andam soltas para apedrejar  tudo que considerem reprovável de forma debochada e virulenta.Por que esperar pelo próximo tiroteio em escola que apoiado pela sanha controladora de pilantras em Brasília, pode acabar se tornando mais uma lei restritiva à liberdade de consumo?

Não adianta se encolher e implorar para que pessoas cegas ou moralistas retrógrados deixem de perseguir as suas queridas revistas em quadrinhos.Os tipos de anormais parecidos com os que,décadas atrás queimaram livros ou discos(aliás,muito equilibrada essa gente que toma medidas que só nazistas tomaram,não?)só avançam.Pois até agora com idéias batidas como;”quadrinhos me iniciaram na leitura”,”quadrinhos são a nona arte”,”quadrinhos não podem tornar ninguém violento”,”quadrinhos não podem ser julgados por quem não lê”ou mesmo o clássico “quadrinhos não são mais coisa de criança” nunca os impediu até agora.E nem vai impedir!Um futuro previsível aguarda quem anda vomitando essas babaquices esquivas e medrosas!

Enquanto não houver uma ideia séria sobre como rechaçar esses ataques e esfregar na cara de farsantes da mídia marrom que eles nunca acabarão com nosso direito de consumir entretenimento livremente,seja de onde vier ou com quais características vier,vamos continuar nos colocando amedrontadamente no papel de vítimas.Esperando pelo melhor,mas tendo sempre a certeza de que o pior voltará a se repetir.

Fontes:UniversoHQ,Guia dos Quadrinhos Wikipédia.





































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