terça-feira, 12 de maio de 2020

POR QUE KURT BUSIEK ESTÁ ERRADO SOBRE A "DIVERSIDADE"

Por: Hds.





É interessante notar as opiniões de profissionais que realmente trabalham em cada tipo de produto nos mercados de entretenimento. Pois é, muitas vezes dali, que saem as ideias que vão mudar o próprio meio. Nesse dia 08 de maio o site Jamesons publicou uma matéria sobre o que pensa o escritor Kurt Busiek a respeito da tal "diversidade". Vou explicar a origem do tema deste texto e comentar as declarações do escritor refutando supostas verdades por trás delas.

A matéria tem o título: Roteirista dos Vingadores defende a diversidade nos quadrinhos: "uma questão de realismo". Os erros já começam nas aspas dedicadas a Kurt. Como incluir personagens ficcionais num universo de quadrinhos pode ser uma "questão de realismo"? Nenhum deles existem de verdade. Usar características de pessoas, objetos ou fatos do mundo real nas hqs é possível. Mas a diversidade, tão defendida por dezenas de artistas no mercado, não gera "equilíbrio" nenhum numa realidade inventada. Gera apenas influência panfletária direcionada para um nicho de consumidores de entretenimento.

Busiek criticou quem acusa a diversidade pela má qualidade das histórias atuais. No que ele está, em parte, certo. Pois o que provoca as péssimas histórias da Marvel e DC hoje são o desinteresse dos donos das editoras na qualidade. A ganância em reutilizar truques sujos pra alavancar vendas. A baixa bagagem cultural e criatividade dos artistas e escritores. A covardia em concorrer com demais mídias e o estrelismo que muitos desses profissionais mostram. Sendo assim o autor acertou sobre os leitores burros que culpam só a diversidade, mas errou em deixar de fora esses outros problemas.

Citou a frase de uma escritora chamada Mary Robinette Kowal afirmando que: "não se trata de adicionar diversidade por uma questão de diversidade, mas de subtrair homogeneidade por uma questão de realismo". De novo, como já havia afirmado Mauro Tavares no blog Supercaixa de Gibis, não há nada de "realismo" em seres que disparam rajadas laser pelos olhos ou erguem prédios!

Essa ideia de "subtrair homogeneidade" também é falsa. Pois a maioria dos consumidores de quadrinhos no mundo todo é formada por leitores entusiastas, que desde crianças tiveram contato com esse produto e resolveram acompanhá-lo por livre e espontânea vontade. E não por que esperavam encontrar neles uma compensação em forma de "representatividade". Além disso, é de uma arrogância que beira o autoritarismo. Querer obrigar pessoas que financiaram essas revistas por toda a vida a aceitar modificações que deturpam os personagens e histórias originais. Elas tem o direito de ler aquilo que foi feito para elas e que gerou essa anterior empatia. Com todas as características que fizeram delas o que sempre foram.

Segundo o site, a discussão começou por causa de leitores que reclamam que as histórias "não são tão boas como costumavam ser". E que os criadores agora "põe políticas acima de tudo". 

Em primeiro lugar é verdade que as histórias estão muito ruins. Escritores preguiçosos ou sem cultura escrevem fuçando revistas e eventos feitos há décadas atrás. Não criam nada novo, pois tem medo que os direitos fiquem na mão da editora. Donos de editoras imaginam essas empresas como cassinos de Las Vegas. Onde os personagens são caça-níqueis pra atrair dinheiro com tramas cada vez mais apelativas e podres. E não bastasse isso, esses empresários querem que meras revistas rendam cifras equivalentes aos filmes ou videogames de sucesso. Existe uma verdadeira regurgitação de ideias velhas desgastadas além do limite. Tudo isso, e mais, causam a medonha situação das hqs americanas atualmente. 

Busiek ainda respondeu às reclamações sobre autores que põem políticas acima de tudo, com aquele velho e fracassado argumento de que "assuntos políticos sempre estiveram presentes nas hqs". Em boa parte delas sim, mas nunca de forma tão doutrinadora  e venenosa como hoje se faz na Marvel.


Nada mais fácil que usar o próprio trabalho do autor como prova contra ele.


Em outro trecho, um participante do debate mostrou uma cena da fase dos Vingadores escrita pelo próprio Busiek. Nela um agente do governo que acompanhava as operações dos Vingadores sugere que deveria haver um integrante negro no grupo. Que a mídia havia "percebido" que não havia nenhum. O escritor, com ajuda da arte de George Pérez, retrata a ação de Tony Stark como intimidadora, avançando sobre o agente e afirmando que "não era a favor de impor cotas étnicas". 


Todos os heróis "brancos opressores" reunidos contra a diversidade nos Vingadores.


O tom de preconceito que Busiek deu ao Homem-de-Ferro é mentiroso. Já existiram diversos heróis negros e de diversas etnias nas formações anteriores do grupo.


O Pantera Negra, A Capitã Marvel (Monica Rambeau), O Falcão (ex-parceiro do Capitão América), Máquina de Combate, Homem 3D (?), Luke Cage e Mancha Solar. Foram sete personagens negros! E ainda assim querem dizer que não existe "diversidade" no grupo? Sendo que além de várias etnias, ainda tivemos robôs, deuses, mutantes e alienígenas em formações antigas. Se Stark fosse preconceituoso teria entregue uma de suas armaduras para James Rodhes para que o substituísse?


Busiek chama o sujeito que entrou no debate de idiota. Faz rodeios parar se explicar mas acaba por fim provando que a ideia era convencer os heróis a aceitar mais integrantes por causa de pressão pública. Destaca que todas as vozes dentro da história são dele. Afinal foi ele quem escreveu. E é exatamente por isso que o autor pode ser refutado.

No fim da história o próprio roteirista se desmente na intensão de ser "neutro" no debate, mudando a equipe para pôr um negro e quatro mulheres na nova formação. Nesse trecho do texto o site Jamesons diz que mulheres são minoria no mundo em relação aos homens. É verdade que existe menos mulheres no mundo. Segundo um relatório da ONU (fonte duvidosa, mas talvez não errada nesse caso), dos quase sete bilhões de seres humanos na terra, os homens tem uma vantagem de apenas 57 milhões a mais que a população feminina. Uma diferença ridícula que não justifica tratar mulheres como vítimas somente por estarem em (desconsiderável) número inferior. Se órgãos corruptos como a ONU pretendem ajudar mulheres, deviam fazer isso de forma útil. Como, por exemplo, denunciar os abusos que elas sofrem em países islâmicos sendo mutiladas, queimadas com ácido ou apedrejadas.

Perto do fim da matéria, Busiek fala de outro leitor que dizia que os heróis deviam entrar em grupos pelo mérito. O argumento do leitor estava incompleto, claro. Pois esse mérito pode ser criado artificialmente. O que facilitou pra o escritor ironizá-lo e dizer que criou um herói negro para ser tão competente quanto os demais. A contradição de Busiek está no fato de que heróis de quadrinhos foram criados para protagonizar feitos heroicos. Não importando se são negros ou brancos. Sobre a questão que ele colocou da formação original dos Vingadores ser composta de brancos, isso se dá pelo fato de que os leitores na maioria eram brancos na época da criação da hq. Por conveniência, ele não lembra que quadrinhos são um produto. E como tal, feitos pra atender uma demanda de público. Sempre existiram super-heróis negros e outros tipos dos mais variados. Mas por se tratarem de figuras feitas em cima de pessoas cuja presença é menor em países e sociedades, essas hqs não vendiam tanto quanto as feitas para a maioria. E não por que os brancos são "malvados" que excluem essas figuras de propósito. Editoras são empresas! Tem que pensar em vender o máximo de produtos para o máximo de pessoas. Isso não significa que quem se define por elas está fora do mercado de hqs. E sim que se essas minorias quiserem estar dentro do grupo de leitores de hqs estarão inclusas nele.

Ou seja, editoras fazerem hqs para nichos menores não dão lucros de verdade!

O melhor exemplo disso foi a maquiagem que a Marvel fez pra enganar leitores fazendo parecer que hqs com diversidade, como MS. Marvel, vendiam bem. Quando na verdade foram fracassadas. As editoras que acolheram as impositivas choradeiras de profissionais estão se dando mal. Trocaram boas vendas e qualidade de histórias por proselitismo barato. 

A opinião de Kurt Busiek é a opinião média de boa parte dos escritores e artistas. Infelizmente. Ela viaja na onda de bom-mocismo falso dessa geração "ódio do bem" de hoje. Hipocrisia, contradição, afetação de bondade e intolerância é o que se pode enxergar no discurso do escritor. Isso não tira o brilho das boas hqs que escreveu ou escreve, mas deixa um gosto ruim em quem, esses sim verdadeiramente, toleram ler panfletagem enxertada nas histórias que ele escreve. Mas argumentar sem cair em incoerências é pra "gente branca e privilegiada" como eu.

2 comentários:

  1. O lucro nao interessa mais.

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    1. Transformaram as revistas da Marvel em panfletos pró-minorias. Isso é canalhice pura! Quadrinhos são entretenimento e devem ficar livre desse uso sujo e tendencioso.

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