terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O TERRA ZERO E A ERA DO "VAMOS CAGAR REGRA ANTICONSUMISTA?"



Por:Hds.


Quadro de Sergio Aragonés sobre o prazer de ler quadrinhos.

Há muito tempo estamos vivendo numa época de policiamento do comportamento alheio.Todos querem dizer uns aos outros o que pensar,fazer e dizer sobre todos os assuntos possíveis,sejam eles relevantes ou não.

O perigo em considerar a "opinião vigilante" em cima de temas como entretenimento como algo passável(afinal de contas estamos falando do que fazemos com o tempo livre e não sobre coisas sérias como religião,não é mesmo?)é que o entretenimento está situado no nível cultural.Por isso mesmo influenciar as pessoas nesse nível acaba sendo mais eficaz do que num nível pouco visitado pela grande maioria da população.

Se ainda não me fiz por entender reafirmo agora;a cultura de qualquer indivíduo é também  a sua mais profunda influência comportamental em vida!Independente de ter crescido lendo histórias dos irmãos Grimm,ou assistindo seriados japoneses nas tvs abertas,sua cultura vai ter sido estabelecida,mais por esses produtos,do que por algo que você considere mais "elevado".

Foi com essa ideia em mente que resolvi escrever um texto em resposta a uma renovada tendência no mercado de quadrinhos;a de criticar os hábitos de consumo dos leitores e fazê-los se envergonhar por quererem comprar de maneira livre e consciente.

Já há algum tempo foi publicado um texto no blog Terra Zero chamado "A era do fica bonito na estante".

O post faz parte de uma coluna que tem a pouco honesta intensão de induzir o leitor a pensar numa agenda de temas que somente interessam aos redatores do blog.O nome dessa coluna é "Pitaco".Algo bem apropriado para quem não quer aparentar ambição nenhuma,mas pretende justamente isso!

Redigido por Pablo Sarmento,um dos contribuintes do blog,que como os leitores mais atentos devem ter percebido,trocou a  pauta informativa pela divulgação de agendas ideológicas caducas.Alguém precisa dizer para a população produtora de conteúdo para internet que ninguém quer ler ou ver mais nada sendo estragado por pretensos assuntos "sérios",estamos aqui para nos divertir(parece que essa gente não anda tendo  muito disso ultimamente...)e trocar ideias com pessoas que gostam do mesmo que nós.

Ler sobre quadrinhos,jogos,filmes e outros meios de diversão em sites como;Omelete,Terra Zero,Judão está virando uma sessão de horário político babaca e tendenciosa!

Antes de ler este texto tenho que,a contragosto,recomendar que leiam antes o próprio texto do Terra Zero.Eu sei que é duro ter que fazer isso,mas é preciso!

Pablo inicia o texto expondo "o novo conflito editorial da moda,estética versus qualidade".Conflito esse que só existe na cabeça dele e de seus amiguinhos de blog.Outro detalhe é que não são os leitores que fornecem essas tais "modas editoriais" com seus hábitos de consumo,eles estão mais ocupados lendo o que gostam.Quem faz isso são justamente os "formadores" de opinião de sites e canais de vídeo.A frase "fica bonito na estante" é uma forma fácil e medíocre de desqualificar o gosto do leitor no Brasil e também lá fora.Um termo que foi criado para ser um alvo e justificar uma crítica mal-elaborada e mesquinha.

Apesar de esquecer de alguns exemplos,no segundo parágrafo,o redator reúne vários motivos pelos quais é melhor ler em encadernados de que nas malditas edições mix.

De acordo com Pablo o problema é que os leitores começaram a adquirir encadernados e ficaram mal-acostumados,pedindo cada vez mais e sugerindo o fim do formato mix.Em primeiro lugar,é comum para ele e outros milhares de leitores esquecerem que durante DÉCADAS o formato mix reinou absoluto no mercado.A editora Abril(sempre ela!)obrigava os leitores a colecionar trocentas edições para acompanhar uma saga.Dispondo de manobras desonestas como pôr histórias em revistas diferentes,de uma mesma saga,para forçar o consumidor a levar o que não queria para casa.As graphic novels eram repartidas em seis ou oito edições para renderem mais dinheiro.E tirando o fato de que você não tinha a menor forma de protestar contra isso e que o padrão da editora era empurrado goela abaixo do leitor sem direito à opinião,ainda temos motivos de sobra para detestar essas decisões editoriais burras tomadas "pensando no leitor".

Prosseguindo,o texto enfatiza que o público de revistas está se perdendo e acusa a atual geração de ter "como hino o imediatismo".Outra falácia conveniente,se temos um público menor de leitores de mensais é porque eles estão migrando para os encadernados!Pergunte aos editores se houve um tempo em que se vendesse tanto quadrinho como hoje,com as bancas lotadas de edições,comic shops e livrarias dentro do mercado ampliando a distribuição?E não dê ouvidos aos editores chorões que dizem o contrário,estes estão aí se queixando desde que eu comecei a ler quando era criança!E termina o parágrafo tachando os leitores de "imediatistas".

Entendo que é preciso dar espaço para que crianças comecem a ler quadrinhos,boa parte dos mercados de entretenimento se esqueceram disso(jogos são feitos somente para adultos com dinheiro suficiente,são tecnicamente inacessíveis,caros e desse jeito barram a entrada de crianças e impedem que o público se renove com mais rapidez),mas seria melhor publicar revistas com preço baixo e de qualidade fora do formato mix,vejam o exemplo de algumas edições da Abril do Batman ou a JBC.

Mais uma vez o autor do texto cita um bom exemplo de encadernados como opção de leitura;os volumes da Salvat.E afirma que "o leitor não pode desmerecer o material que sai em revistas mix".O leitor tem TODO o direito de desmerecer o formato que ELE julgar ruim ou inapropriado para ler.Somos nós,apesar das editoras não agirem levando isso em conta,que sustentamos o mercado.Sem os consumidores não haveria mix,encadernados ou qualquer outra coisa sendo feita.

"Explico:muitas vezes,essas revistas são a porta de entrada para muitas pessoas conhecerem os títulos".

Claro,claro.Mas bem que o pedágio para atravessar essa porta poderia ser mais barato!A revista mix com heróis da Panini mais barata custa R$7,20.A mesma Panini lança todo mês uma edição de Batman Eterno com 28 páginas por agradáveis R$3,50!Bem melhor do ser obrigado a ler o que não quer,não é mesmo?

Pablo segue contando sua experiência com a edição Dark,que reuniu os novos Homem-Animal e Monstro do Pântano e serviram de motivo para que,ele próprio,reclamasse por um encadernado.Mas que depois se mostrou ideal ao apresentar uma série da qual acabou gostando;Vampiro Americano.O redator só se esquece de dizer que fatos assim são isolados(os leitores mais experientes sabem disso...)e que a grande maioria dos mixes são feitos com restos de histórias que somente servem para "encorpar" a edição(pra não dizer estragar)e irritar o leitor.

O parágrafo seguinte é uma coletânea de forçações de barra que devem ter soado bem na cabeça do redator,mas que na prática são um artifício barato para convencer o consumidor de ele está errado e incutir culpa.

Ele afirma que o "opinador" usa o  "fica bonito na estante' para qualificar uma revista e por isso está errado.Mas isso não passa de generalização maldosa e arrogante.Diz que isso não valida a compra de revistas de qualidade questionável,mas quem foi que disse que os leitores fazem isso?Duvido que sequer 30% dos leitores comprem todas os volumes da Salvat somente por causa da lombada.E se o fizesse qual seria o problema?Não é o seu dinheiro,Pablo,que estão gastando.

Continua dizendo que;a primeira coisa a ser notada é o valor da revista e se vale a pena a compra.O engraçado aqui é que foi exatamente os leitores do sudeste(Rio,São Paulo e Minas,onde estão situados os principais sites e vlogs que atiçam o leitor a comprar porcarias)que mais incentivou o aumento do valor dos quadrinhos do início da década de 2000 pra cá.Eles foram aceitando o padrão de luxo cada vez mais até chegarmos na atual situação,em que temos encadernações ultrapassando os 150 reais.E pra finalizar "sugere" ao leitor que a prioridade é o prazer da leitura e não a ostentação com o intuito de se exibir para suas visitas e amigos "nerds".Aposto que um sujeito como esse adoraria ter o poder de Jesse Custer da série Preacher para ordenar ao leitor o que deve ou não fazer!


Outro "problema" citado foi o pedido de obras inéditas no Brasil.Que problema é esse?Vamos supor que O Inescrito tivesse sido publicada em edições avulsas,ela custaria menos e não teria começado aqui no país dividindo espaço com títulos inferiores.Quem comprasse a edição com vinte e poucas páginas,possivelmente,nem iria atrás dos encadernados.Do mesmo jeito que aconteceu com Sandman na editora Globo.E quem quisesse esperar pelos encadernados faria isso sem problema.

E as citadas Starman e LJA não deram certo por que a Panini deu um passo maior que a perna e desnecessariamente as lançou em livros de luxo,acabando coma chance delas serem concluídas.E ainda saiu botando a culpa no leitor!Pura cara de pau!O argumento que algumas revistas não vão bem das pernas nem nos EUA acaba se voltando contra o próprio redator do texto.Pois,a maios parte desse material que "não vai bem das pernas" é precisamente aquele que é usado para abarrotar o miolo das edições mix das editoras!

Agora chegamos no que parece ser o ápice de um show de comédia stand up!Pablo Sarmento usa Miracleman como exemplo de seu ponto de vista torto!Justamente o PIOR caso de picaretagem editorial dos últimos tempos!E não adianta aplicar qualquer desculpa imaginável.O motivo da Panini lançá-la do jeito que lançou foi pura e simplesmente ganância.Não sei se é verdade,mas se ela não está vendendo culpem a Panini por isso,e não os leitores!

Prestem bem atenção nessa frase;"que segurança a Panini teria para algo nesse formato,quando nem as mensais com os extras do criador Mike Anglo, não estão vendendo bem?"A revista estaria vendendo bem se o preço de capa fosse baixo,se não tivesse cheia de historinhas velhas e datadas de Anglo postas ali para encarecer e com todo aqueles extras dispensáveis,que somados fazem MAIS PÁGINAS que a história curta de Alan Moore!

Alguém dotado de incrível cinismo pode atacar com;"mas você está menosprezando Mike Anglo e as artes extras do próprio desenhista?".Se elas são tão boas ou importantes assim para estarem lá,por que a Panini não experimenta lançá-las separadas?Seria um fracasso estrondoso!E pra derrubar a baboseira de que "esse título é o mais comentado e requisitado no mercado "estadunidense"(pode chamar de americano mesmo,meu caro,é isso que eles são!)nos últimos vinte anos",basta dizer que foi exatamente em cima dessa expectativa que a Panini teve a coragem de cobrar o preço de R$7,50 na capa.Por confiar no impulso irracional de compra que ela acredita que o leitor tem.

No parágrafo seguinte,se trocarmos os termos bonito na estante e equilíbrio(em relação aos hábitos de compra),por;"termo pejorativo que adoraríamos que vingasse" e "auto-flagelação pelo consumo" estaremos mais próximos da verdade.As tais edições da Valiant e Juiz Dredd são péssimos exemplos também.As da Valiant saíram com preço de R$8,90 por apenas quatro histórias e depois de um tempo subiram para R$12,90.Sendo que as páginas caíram de 100 para 84!E ainda tem gente querendo saber porque elas não deram certo!E não se esqueçam que todas elas(incluindo Juiz Dredd)eram mixes.

O redator do Terra Zero termina(ainda bem!)o texto lembrando do tal "equilíbrio" como consumidor.E lança mais uma ou duas(entre milhares de)hashitags;#menosostentaçãonaestante #maishistóriaboasnoarmário.Mais hashitags que são lançadas e ignoradas pelo fato de todos saberem que ninguém dá a mínima para essas campanhas bestas.

Quanto mais ouço tipos como esses do Terra Zero tentando ditar o modo como consumo meus quadrinhos,mais tenho motivos para cuspir em cima de toda essa maldita cagação de regra imbecil!Eu trabalho,ganho meu dinheiro,compro o que me der na telha,me divirto dentro de um vasto catálogo de opções de entretenimento puro e livre e ora!vejam só!Me orgulho completamente disso!!!

Ignorem toda essa vigarice pretensamente "argumentativa" e "intelectual" e faça o que bem quiser!Até o próximo texto.

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