Por:Hds
Por menos que a grande maioria dos leitores de quadrinhos
não se importem com esse fato,e isso só mostra o quanto mesmo sendo mais velhos eles evitam assuntos sérios,não temos como fugir da verdade nas motivações
políticas e mercadológicas das grandes editoras de HQs.
Há muitas décadas essas empresas fornecem material de
consumo para bilhões de crianças,adolescentes e adultos desde o início desse
mercado.E por isso mesmo devemos considerar nomes como Marvel,DC e Image como
empresas,pois por mais que o público as vejam como “fábricas de diversão”elas
precisam lucrar muito para se manterem no mercado.
Como a principal matéria bruta das editoras são seus
personagens,não é difícil imaginar que depois de tanto tempo eles acumulem
todos os tipos de recursos e truques para render montantes.Já vimos de
tudo.Dimensões paralelas,mortes,transformações das mais estranhas,trocas de
corpo,viagens à lugares impensáveis,mudanças de conduta bruscas,perdas de
poderes e outros zilhões de idéias.Umas boas,outras bisonhas.
A notícia do título acima não é nova.Mas penso que seja
importante trazer algumas noções que podem esclarecer alguns eventos e fatos
divulgados de forma espalhafatosa na mídia,e que na maioria das vezes são
tratados com escárnio ou condescendência por muita gente do ramo.
Vamos então nos situar no assunto:
Dentro da edição de All New X-men nº40 foi “revelado” que
Bob Drake é homossexual.A história escrita por Michael Brian Bendis relata
mudança sobre o personagem que, na verdade,se encontra em outra linha temporal
dos X-men.Mas ainda é o mesmo Bob Drake dos fundadores do grupo original com
mais de 50 anos.
Mesmo depois de vários outros heróis da própria Marvel e
também da DC já terem passado por uma situação parecida,ainda cabe a
pergunta;por que isso vem acontecendo com tanta freqüência hoje em dia nas HQs?
Em primeiro lugar temos que ter em mente que os quadrinhos
desde sempre foram usados como peça de propaganda ideológica,política ou
governamental.Durante a Segunda Guerra Mundial Super-homem,Capitão América e outras centenas de heróis,figuraram em capas esmurrando Adolf Hitler para ensinar
os garotos nos EUA quem era o vilão contra a liberdade.O governo americano
sempre viu nas várias formas de entretenimento um veículo para propagação de
idéias nacionalistas/belicistas muitas vezes alienativas e mal-justificadas.
Como faço questão de trazer à tona,consumidores de
quadrinhos,jogos de videogame,seriados,filmes,animações e etc tendem a se
fechar numa bolha de conformismo e conveniência.Fãs de HQs estão por demais
ocupados com a próxima saga ou cross-over para prestar atenção nos bastidores
dessa indústria que muitas vezes revelam dados preocupantes,mas que são
sumariamente ignorados pelos leitores.Digo isso por aqueles que já são adultos e mesmo assim evitam debates sobre as falhas do mercado de quadrinhos como o diabo foge da
cruz e não pelas crianças e adolescentes.Esses aí não precisam e nem devem desperdiçar
sua juventude com temas rançosos como esse.Mas a verdade é que Marvel vem pondo em prática sua agenda de
“inclusão de minorias “ dentro do seu universo há um bom tempo.
Nos filmes
tivemos um Rei do Crime negro totalmente deslocado da cronologia real do Demolidor.Um
Bem Urich também negro na séria do Net Flix do herói.O mais recente foi o novo
Tocha Humana.Que no quarteto como conhecemos é irmão de Sue Richards(de cor
branca),e que aparece como um negro somente para gerar piadinhas das mais
previsíveis.Culpem a Marvel por elas!
Mas é dentro das revistas que essa política vem se
espalhando com notoriedade.Desde o início dos anos 2000 a Marvel vem ganhando
milhões quase que anualmente com seus filmes baseados em Super-Heróis.Na
verdade os filmes tiraram a empresa da bancarrota em que ela mesma se colocou
ainda nos anos 90,onde a empresa se viu batendo na porta do governo mendigando
ajuda para não quebrar.Mas mesmo com todo o lucro que conseguem com os
Block Busters de sucesso como Vingadores,ainda continuam amargando baixas vendas
em seus principais títulos.
No começo da década de 90 somente a revista do Homem-Aranha
vendia perto de 1milhão de cópias.Hoje com muito esforço e usando de recursos
apelativos ela não vende nem 300mil unidades.Talvez você comece a perceber aonde
quero chegar agora,a Marvel precisa atrair leitores de qualquer maneira.E isso
logicamente inclui todo tipo de leitor.Aqueles que sempre leram quadrinhos,seja
qual fosse sua condição na sociedade,ou aqueles que começariam a ler por
encontrar ali um motivo de identificação empática.
E é exatamente por isso que de alguns anos pra cá temos essa
verdadeira profusão de heróis “contemplados “ com alguma “causa” pela qual lutar,que poderia encher seus olhos de
lágrimas com tanto melodrama mexicano.Personagens perseguidos e odiados pela
civilização que os teme e odeia não são nenhuma novidade.Esse fenômeno é na
verdade cíclico.Sempre que fatores sociais e políticos “revolucionários”
influenciam na cultura geral temos esse decréscimo na qualidade de idéias e da
arte como um todo.
Quem não se lembra dos X-men multi-étnicos de Giant Size
X-men nº1 com heróis vindos de toda parte do mundo?Isso se chama “política de
inclusão”,caso você não saiba!
Apesar de tudo,essa foi uma leva importante de heróis mutantes que surgiu naquela época. |
Ainda dentro da notícia citada,o autor Brian Bendis afirma
que alguns vão achar estranha essa mudança e outros nem vão ligar.Pois uma boa
parcela dos leitores já esperava que Bob fosse gay.Em nenhum momento Bendis
consegue ser convincente ao explicar que havia um precedente que comprovasse
que o herói é realmente homossexual.Se ele afirma isso baseado em uma busca
forçada,que retroativamente procura por painéis,diálogos e eventos que
convenientemente “provam” a verdade,está somente fazendo o que qualquer fanboy
burro e desocupado poderia fazer para desencavar evidências fajutas.
Ainda na opinião de Axel Alonso(editor) Bob Drake é um
indivíduo que “falhou” mais de uma vez em relacionamentos com várias mulheres e
por isso apresenta um histórico mal-sucedido.Bob no começo das histórias dos
X-men era um tipo de Tocha Humana:brincalhão,rico e mulherengo.Por isso não
aparentava manter compromissos longos com as garotas com quem se envolvia.Mas é
claro que na visão de Bendis e Alonso ele é sim gay.Afinal de contas se um
sujeito(mesmo que por vontade própria) “falha” em manter relacionamentos
duradouros ele só pode ser inevitavelmente “diferente”,não é mesmo?E já que
existem vários heróis na Marvel que estão dando sopa andando por aí
solteiros,por que não abduzi-los e transformar-los em avatares de minorias
estereotipadas?
Por parte do público gay leitor de quadrinhos qual deveria
ser a atitude diante da onda de “apadrinhamento” de minorias por conta de
editoras como a Marvel e DC?Eu não sei quanto a vocês,mas eu me sentira um
completo imbecil sabendo que elas só estão fazendo isso para catar moedas de
pessoas desesperadas por aceitação auto-piedosa!Mesmo que essa aceitação venha
de uma revista em quadrinhos que somente deveria servir para divertir e não
para promover panfletagens descaradas como essa!
Enquanto estou digitando este texto está sendo lançada em
bancas a revista do Luke Cage dos anos 70,época em que se destacavam
protagonistas negros briguentos(embora vivessem reclamando como velhas chatas
sobre as agruras sofridas pela sua raça),posudos e caricatos.E aproveitando o
gancho vejamos alguns exemplos dessa “nova” tendência dos quadrinhos:
Aqui temos a página/motivo deste texto em que Jean Grey
arranca Bob Drake de sua “condição passiva” mostrando que sabia desde o começo
que ele era gay.A heroína havia lido a mente do Homem de Gelo e perde a
paciência com suas tentativas de esconder o fato.Essa atitude somente reforça a ideia falsa
de que um homossexual só pode construir sua auto-estima caso alguém esfregue a
verdade na sua cara obrigando-o a se mostrar desse modo.
O Loki das sagas do Thor claramente foi baseado no figura
mitológica nórdica.Nas edições de Loki Agente de Asgard ele é retratado como
transmorfo e bissexual .Nesse caso temos uma proximidade com o mito original,já
que dentro da mitologia Loki mudava de forma em várias passagens,sendo até
capaz de assumir formas de animais de ambos os sexos.Mas é óbvio que fica a
pergunta do por que isso não aconteceu antes em suas histórias se sempre foi
possível?
Na linha Ultimate tivemos o Colossus que aparentemente
também deveria sofrer do mal do “solteirão incurável”.E mesmo que tivéssemos
altos e baixos nos diálogos típicos de personagens gays na mão de um bom
roteirista como Mark Millar não houve destaque para Piotr Rasputin entre os
demais do grupo.
A Mystica é um exemplo de como é fácil pescar nesse aquário.Afinal
de contas ela é uma transmorfa como Loki.E por menor que seja a capacidade
imaginativa dos leitores pelo menos uma vez eles já devem ter se perguntado o
que se passa na cabeça de alguém que pode mudar de sexo como quem troca de
roupas!No mínimo é bizarro pensar num tipo como os Skrulls (também com
capacidade de mudar de forma,que criativo!),todos raivosos querendo
guerrear e imaginar que um soldado de sua raça considera normal virar mulher
somente com o intuito de enganar seus oponentes.
O casamento de Estrela Polar foi amplamente divulgado e
repercutiu em todas os principais veículos de notícias.Não sei bem,mas tenho a
impressão de que realizar o primeiro casamento gay na Marvel com heróis de
terceira linha não me soa algo tão corajoso assim.A editora estava notoriamente
mais interessada em mandar uma mensagem (pouco discreta) para o público alvo,fazendo
o máximo de barulho na mídia.
O beijo entre Wolverine e Hércules.Esse é o talvez o evento
mais emblemático programado pela editora.Percebe-se que a justificativa de algo
acontecer em um universo paralelo com versões alternativas dos heróis,ou
ocorrerem distorções espaço-temporais ainda não conseguem sustentar a lógica
completamente incongruente e esfarrapada desses acontecimentos.
É como se alguém na Marvel fizesse um esforço e pensasse:”o
que podemos fazer para convencer nossos leitores de que aderimos à sua causa da
forma mais gritante e escandalosa possível?Simples,pegamos dois dos personagens
que representam ideal de machão grosseiro e os colocamos se beijando!”Isso soa
tão miseravelmente forçado como se pusessem Sylvester Stallone e Chuck Norris
se beijando só pra mostrar que mesmo os maiores símbolos de macheza podem ser
impiedosamente destroçados!
A Marvel no desespero de mostrar uma “visão inclusiva” acaba
sendo vulgar e desrespeitando de maneira mesquinha os leitores de todas as
classes,tentando fazer com que se sintam “abraçados” pela empresa.Truques sujos
e interesseiros não vão salvá-la da crise criativa em que se encontra
atualmente.Ao invés disso,poderia demonstrar coragem se recusando a fazer parte
de imposições culturais em acordo com a praga do politicamente correto.Façam
realmente aquilo que podem fazer de melhor pelos leitores do mundo todo:produzam
boas histórias!
Sendo assim,quem compra os quadrinhos da editora se sentirá
realmente “incluso” no maior grupo possível:o daqueles que gostam e se divertem
com as revistas de seus personagens.
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