Por:Hds
Nota inicial: Recomendo ouvir o podcast (ou pelo menos partes dele) antes da leitura.
Existem duas situações em que o mundo do entretenimento dos
quadrinhos se encontra.Uma delas é o estado natural de repouso,onde podemos ler
e comentar as histórias com outras pessoas que compartilham do mesmo
hobby.Podemos nos entusiasmar com eventos e acontecimentos excitantes das
histórias.Com personalidades que atraem nossa atenção pelo seu talento.Ou simplesmente
discutir sobre quem é mais forte;Super-Homem ou Hulk.Nessas e em muitas outras
ocasiões estamos livres e despreocupados aproveitando tudo o que existe de
melhor no mundo ocidental em matéria de distração.
Na segunda situação somos abruptamente arrancados de nossa
calmaria e satisfação por verdadeiros cães raivosos.Indivíduos dos quais nunca
ouvimos falar vociferando regras e ordens arrogantes.Apontando o dedo na cara
de qualquer um que considerem errado e acusando-os de cometer crimes que só
eles conseguem enxergar.São os malditos histéricos do mundo “adulto e
politizado”,que até então você nunca tinha ouvido falar antes deles meterem as
patas sujas no seu passa-tempo preferido.
Pode ser um político falsamente moralista e boçal.Um grupo
de senhoras religiosas desocupadas.Feministas incomodadas até com o gás
carbônico masculino que elas tem que respirar.Educadores tacanhos que incomodam
crianças com seu fetiche doentio pela “moral educativa”.Apresentadores e
Jornalistas completamente dissimulados e vigaristas,que pela simples falta de
vergonha atacam da forma mais escandalosa e irresponsável o produto de consumo
de pessoas comuns.Usando o poder de imbecilização das emissoras de TV,de
rádio,revistas,jornais e sites como uma arma contra a liberdade de entretenimento
popular.O purismo covarde e conveniente das empresas que produzem atrações.E é
claro,a vigília ignorante vindo de dentro de casa e também dos próprios
leitores de quadrinhos.
Em todos os casos citados temos gente nociva e controladora
provocando danos gigantescos e difíceis de serem reparados em qualquer indústria.Esses episódios são
historicamente cíclicos.E embora partam de lugares diferentes causam sempre os
mesmas reações da comunidade dos quadrinhos.
Tendo em vista que este é um assunto cansativamente recorrente
para os leitores de qualquer idade e grau de informação,resolvi fazer
uso do caso mais recente para trazer algumas opiniões.Não escolhi o podcast do
site UniversoHQ por acreditar na relevância e importância do mesmo na abordagem
do assunto.Mas sim por servir ao propósito do comentário.Então vejamos o que
foi discutido:
Os participantes do Confins do Universo,que no caso são
Sidney Gusman,Samir Naliato,Sérgio Codespoti e Marcelo Naranjo começam falando
do acontecimento mais recente.A queixa da estudante Tara Shultz sobre as HQs
Persépolis,Sandman,Fun Home e Y The Last Man entre outras que seriam impróprias
para a biblioteca de seu colégio.
Depois disso eles são “forçados” a entrar no velho e batido
assunto do Comics Code na época da EC Comics e o livro Seduction of the
Innocent,discorrendo sobre os clichês que normalmente vem acompanhados desse
tema.Tema esse do qual prefiro retirar somente alguns fatos notórios.Como o
início da indústria da auto-promoção que existe até hoje nos EUA(vide o exemplo
do oportunista Jack Thompson)que incluem advogados,funcionários de escolas e
universidades,psicólogos de programas de baixaria e os ditos “profissionais da
área”.Que curiosamente estão sempre abertos a receber dinheiro e espaço na
mídia para falar merda sobre qualquer coisa da qual não entendam joça nenhuma.
Sempre
envolvidos por uma fajuta “aura” de razão amparadas pelas suas “opiniões
técnicas” e seus diplomas que normalmente não serviriam nem pra
papel-higiênico.A coragem de Bill Gaines ao enfrentar o julgamento inquisitivo
dos dementes puritanos.A atitude completamente covarde e mesquinha da DC,Marvel
e outras editoras ao recuarem criando por conta própria um “código de conduta “
que prejudicaria tão somente elas mesmas.E por fim a perene e famosa histeria coletiva americana que atravessa sua cultura desde tempos antigos.
Seguindo no quesito de censura temos fábulas sobre o início
dela no território nacional.Onde, como de costume,o Brasil se mostrou disposto
a copiar seletivamente o que existem de pior na cultura de repressão Americana
e Européia.Cabe aqui um comentário ao empresário Adolfo Aizen,que segundo os
locutores foi inteligente ao se antecipar à onda de censura que sabia estar por
vir.Aizen publicou revistas com histórias comportadas e educativas.Abrasileirou(isso
significa que estragou algo vindo de fora!)conteúdo vindo dos EUA e
popularizou adaptações de obras
literárias brasileiras(pois é,e você aí pensando que essa torrente de títulos
medíocres baseados em romances chatos de Machado de Assis,Guimarães Rosa entre outros autores eram exclusividade do mercado
atual...).
O mais estranho é constatar essa “inteligência” da qual
falam os integrantes do programa só veio depois da pressão da sociedade e das
circunstâncias desfavoráveis que obrigaram Adolfo Aizen a fazer malabarismo
para publicar algo considerado aceitável naquela situação.Belo progresso para
constar na trajetória dos quadrinhos no Brasil!
E provando que as editoras daqui também podem ser tão
bundas-moles como as estrangeiras,a mesma EBAL de Aizen criou um selo
regulatório.Tivemos até um código com 18 artigos assinados por todos os grandes
donos de editoras como;Abril,Rio Gráfica,Ebal e O Cruzeiro ainda na década de
60.Falava-se até em cotas para o quadrinho brasileiro.Qualquer semelhança com o
tempo funesto em que vivemos hoje não é coincidência.
Continuando temos menções aos “anos de chumbo” com aquela velha ala dos
cartunistas “engajados” como;Ziraldo,Jaguar e Henfil que são aclamados como
heróis ainda hoje pelos palermas viciados em discursos encrenqueiros
hipocritamente revolucionários.Não é a toa que boa parte deles hoje aproveitam
de uma velhice pró$pera e reconhecimento dos meios de comunicação puxa-sacos de
sempre.
Saindo do Brasil,temos agora o quadro da censura na Europa.É
importante frisar que nela se passaram episódios mais grotescos de censura,muitas
vezes com o total apoio da população.É bastante comum no velho continente(tanto na parte oriental como na
ocidental)encontrar barreiras ao mais variados tipos de
revistas,jogos,brinquedos,filmes ,séries de televisão e etc.Quer tentar puxar
pela memória quantas vezes você já ouviu falar de um Grand Theft Auto ou anime
violento ser barrado na Europa por conter temática adulta?Não dá pra aceitar
que justamente nos países que possuem um acúmulo de cultura que atravessam milênios e por
isso deveriam ter uma mentalidade mais avançada,é onde se vê a mais nojenta
postura passiva e condizente com o politicamente correto.
E se estamos falando de estupidez e idéias idiotas por parte
da sociedade não podemos deixar a França(um dos piores países nesse quesito)de
fora.Então chegamos ao Charlie Habdo.Jornal com charges que hora acertavam hora
erravam feio no alvo de críticas.Não quero entrar no terreno lamacento desse
assunto,mas se o jornal costumava ser regularmente elogiado por muitos da
imprensa daqui isso não é um bom sinal.
Aproximando-se do fim do Confins do Universo fica a
impressão(bem clara)de que em nenhum momento o espinhoso discurso sobre censura
e os inúmeros e desgastantes acontecimentos ligados a ela foi devidamente
evoluído.Relatos foram feitos.Falou-se bastante sobre a ditadura e as manobras
para escapar dela.Sobre as proibições tacanhas dos profissionais de editoras americanas.Das personalidades mais prejudicadas pelos cortes e
perseguições.Diferenças entre os lugares e culturas onde houve algum veto.Mas
no fim das contas a opinião dos participantes ficou escondida na velha
mentalidade do “deixa quieto”,fraca e concordante com o senso comum.
Enquanto não pensarmos e agirmos de forma direta(e isso
definitivamente não inclui nenhuma
“militância" ou "luta” cretina do tipo)ficaremos presos num eterno ciclo
de repetição.Alguém morre e isso acaba sendo forçadamente relacionado aos
quadrinhos,como no crime em que uma edição de Sandman foi encontrada ao lado de
um corpo e o autor Neil Gaiman teve que se explicar como se a culpa fosse
dele.Um maníaco atira num cinema dizendo que é o coringa e retrocedemos em
décadas na noção de” revistas não são responsáveis por coisas desse
tipo”.Grupos de pais acusam desenhos e histórias de conter pornografia e
violência que influenciam seus filhos.Programas de TV fazem matérias venenosas
sobre HQs sempre que a audiência está baixa ou por puro policiamento antiquado e
teatral .Somos surpreendidos por políticos que volta e meia aparecem com leis e
projetos pré-históricos tentando proteger as crianças e adolescentes. E a única reação mostrada é a de uma moleque
chorão que tem seu brinquedo quebrado,sua diversão tirada e se encolhe com medo
murmurando reclamações que não vão surtir efeito nenhum!
Que tal se só pra variar tomássemos a dianteira e
procurássemos esses tipinhos repulsivos que andam perseguindo e linchando os
quadrinhos antes que eles fizessem isso?Talvez não seja o caso de se criar um grupo como o Comic Legal Defense Fund,mas acionar meios legais contra as proibições.Pessoas que possuem meios de divulgar
opinião favorável às Hqs devem usá-los para antecipar textos
tendenciosos.Criticar justamente canais de TV que insistem em denegrir esse
meio.Desmentir e expor certas figurinhas tidas como “abalizadas” que até então
andam soltas para apedrejar tudo que
considerem reprovável de forma debochada e virulenta.Por que esperar pelo
próximo tiroteio em escola que apoiado pela sanha controladora de pilantras em
Brasília, pode acabar se tornando mais uma lei restritiva à liberdade de
consumo?
Não adianta se encolher e implorar para que pessoas cegas ou moralistas retrógrados deixem de perseguir as suas queridas revistas em
quadrinhos.Os tipos de anormais parecidos com os que,décadas atrás queimaram livros ou discos(aliás,muito equilibrada essa gente que toma medidas que só nazistas tomaram,não?)só avançam.Pois até agora com idéias batidas como;”quadrinhos me iniciaram na
leitura”,”quadrinhos são a nona arte”,”quadrinhos não podem tornar ninguém
violento”,”quadrinhos não podem ser julgados por quem não lê”ou mesmo o
clássico “quadrinhos não são mais coisa de criança” nunca os impediu até
agora.E nem vai impedir!Um futuro previsível aguarda quem anda vomitando essas
babaquices esquivas e medrosas!
Enquanto não houver uma ideia séria sobre como
rechaçar esses ataques e esfregar na cara de farsantes da mídia marrom que
eles nunca acabarão com nosso direito de consumir entretenimento livremente,seja de onde vier ou com quais características vier,vamos continuar
nos colocando amedrontadamente no papel de vítimas.Esperando pelo melhor,mas
tendo sempre a certeza de que o pior voltará a se repetir.
Fontes:UniversoHQ,Guia dos Quadrinhos Wikipédia.
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