Por:Hds.
É no mínimo estranho que depois de tantos anos dos mangas
sendo publicados no Brasil,e de terem se confirmado como um estilo ágil e
empolgante para toda uma nova geração de leitores existam tão poucas histórias
sobre os samurais que efetivamente deram certo no nosso mercado.
Acredito que isso se deu pelo fato de,no início,serem
lançados somente mangas ligados aos animes exibidos nas redes de TV.Ali
predominavam o estilo shonen com Dragon Ball,Yu Yu Hakusho e Cavaleiros do
Zodíaco.Temas como período dos Samurais só seriam explorados quando o público
desse material fosse amadurecendo.
A editora Conrad que foi justamente quem iniciou o boom dos
mangas no Brasil,também foi a primeira a lançar séries no estilo Gekigá ou
Seinen como são chamados atualmente.E o primeiro título nessa linha a surgir
foi Vagabond.
O manga de Takehiko Inoue lançado em 1998 é baseado no livro
de Eiiji Yoshikawa;Musashi,e conta a história do samurai mais famoso do
Japão.Logo de cara o autor fez questão de deixar bem claro que a saga de
Miyamoto Musashi não seguiria fielmente a história oficial dos livros de escola
e nem mesmo a da versão de Eiiji.
Apesar disso,o manga apresenta uma qualidade de artes e roteiros excelentes
e fisgou diversos prêmios dentro e fora de seu país de origem.Os desenhos de
Inoue são absurdamente detalhados e entregam um conjunto de narrativa belíssima.Cenários ricamente ilustrados dão um
clima de passagem de tempo lenta e contemplativa.As sequências de lutas são
dinâmicas e transmitem uma tensão que insiste em ficar suspensa no ar.Como se o
resultado das mesmas fossem sempre o mais dramático possível.E tudo isso sem
necessariamente “seguir a história dos documentos oficiais”.
A ideia da Conrad de trazer justamente Vagabond para as
bancas brasileiras não poderia ser mais acertada,estabelecendo um precedente
para os títulos adultos publicados entre os quadrinhos japoneses aqui.
Mas alguns problemas na trajetória da revista começaram logo
cedo.Pois,se a editora da revista Herói foi a pioneira em vários detalhes que
seriam aclamados pelos leitores(como a publicação em sentido ocidental,padrão
de qualidade bom e tradução passável respeitando a língua nativa dos mangas),também
foi ela quem trouxe outras conhecidas dores de cabeça aos leitores(como o
mal-fadado meio-tanko,censura descabida e cancelamentos sem o menor aviso nem
respeito com os consumidores).
Algumas pessoas acham o desenvolvimento dos arcos lentos
demais.Outras entendem que é melhor assim,pelo fato de permitir uma progressão
quase que “degustativa” da atmosfera ambientada no Japão antigo.Por isso
mesmo,a decisão de publicar uma jornada tão longa(e já naquela época sem
previsão de acabar)em meio volume da versão japonesa foi uma ideia burra logo
de cara.
É fácil pensar que o que ajudou a Conrad a se estabelecer no
mercado foi a qualidade inegável que colocava em suas edições(boa parte delas
em papel off-set).Mas liberar edições de apenas cento e poucas páginas por mês
tornava o acompanhamento delas ainda mais arrastado e frustrante.Publicar arte
de Takehiko Inoue em papel jornal ou couché deveria ser considerado um crime(sendo
que seu desenho refinado e detalhista fica espetacular num papel o mais branco
possível).Então seria melhor(mesmo na certeza de um aumento considerável no
preço de capa)ter lançado logo em volumes completos.E com essa atitude poderia
ter-se aberto até um precedente para títulos do gênero adulto.
A primeira série da revista durou exatas 44 edições mensais
até ser bruscamente interrompida para que uma nova fosse iniciada,em papel
pólen e formato(alardeado como o melhor do mundo em acabamento até então)e luxo
custando R$25,00.A exemplo de DragonBall,Vagabond sairia em Kanzenban(o que
seria no caso o ”volume definitivo”)e acabaria sendo igualmente
cancelada.Sacaneando completamente os leitores que acreditaram na editora ao
ponto de pagar o ostensivo preço cobrado.
É muito importante prestar atenção no fato de que ao longo
do histórico desse mercado,o comprador de quadrinhos brasileiro foi irresponsável
e cinicamente ferrado com decisões imbecis e egoístas como essa.Alguma vez os
donos de empresas como a Abril,Conrad,Globo ou JBC pensaram que tudo que elas
tem;locações,equipamentos,máquinas,energia,água,salário dos funcionários e
etc,saem do bolso de crianças e adolescentes.Que inocentemente,esses mesmos
consumidores depositam sua confiança(muitas vezes não merecida!)nas revistas simplesmente
por pura paixão pelos personagens mostrados ali?
O mais impressionante nisso tudo é que a Conrad não cancelou
o manga pela questão da proximidade com os volumes japoneses,e sim por que
simplesmente quis!Algo do tipo;Ah!vocês estão comprando isso aqui há anos
religiosamente?Danem-se!Resolvemos ordenhar a licença do título de novo e
deixaremos todo mundo chupando o dedo como um bando de idiotas!Respeito ao
leitor pra quê,né mesmo?Quadrinhos são um PRODUTO como qualquer outro dentro
dos mercados e indústrias brasileiras.Mas,para as editoras,os leitores nunca foram
CONSUMIDORES e elas acham que podem arrancar dinheiro deles com manobras
completamente escrotas e desonestas.Afinal de contas crianças não costumam
reclamar ou dar queixa no Procon quando são lesadas,certo?
Sendo assim,quem gostava das andanças do samurai de Takehiko
Inoue ficou num labirinto sem saída com uma coleção gigantesca emperrada no
número 44.E outra coleção cara descontinuada ainda no número 14.Que bela merda hein,dona
Conrad?
Então,depois de quase CINCO longos anos temos a alegria de
ver o retorno do manga pela Nova Sampa.Ela fez questão de anunciar com o aval
de Marcelo del Greco(que havia entrado no time da editora após ter saído da
JBC),que seria respeitado o formato dos encadernados da Conrad,só que custando
agora “agradáveis “ R$40,00.Muita gente deve ter pensado;”Bom,pelo menos ela
vai ser continuada...”.Mas,parem pra pensar no rastro de asneiras que foi feito
até agora!De que jeito podemos dizer que a publicação de Vagabond foi sequer
proveitosa para os pobres coitados que tiveram a ideia de acompanhá-la?
Pra piorar tudo ainda mais o próprio Marcelo del Greco voltou para a JBC.Ou seja,uma das
pessoas responsáveis por trazer a revista de volta pulou fora do manga,quem
ocupa o lugar dele agora é Douglas Souza.Cujo
primeiro anúncio sobre a revista no Anime Friends 2015 foi de que sua
publicação está suspensa pelo fato de ter vendido ridiculamente mal(segundo ele
perto de 300 exemplares).Notem que a editora não conseguiu trazer a versão
meio-tanko,deixando quem a tem com uma coleção inútil.Será que alguns deles
ainda acreditam que um dia ela vai ser completada?Duvido muito.
Dentro deste cenário desolador temos uma editora
incompetente que gerou uma verdadeira bola de neve grotesca e quase impossível
de enfrentar.Uma passagem de direitos autorais desastrosa,sendo que a Sampa
sequer conseguiu prosseguir com as histórias.E considerando que a atual crise
econômica empurrou as principais empresas do ramo de bancas e livrarias para
uma situação complicada,a Sampa terá ainda mais buracos pela frente para
tropeçar.
E depois de toda essa tragicomédia ainda é possível dar
risadas(mesmo que involuntárias)de alguns leitores e “formadores de opinião” no mercado de quadrinhos que insistem em defender essa ou aquela editora.Vagabond
não é nenhum caso especial,mas somente mais um entre os diversos casos de
quadrinhos que receberam um tratamento de descaso.E que,em casos como o da
cultuada Preacher da vertigo,ficou a cargo do velho jogo de empurra-empurra dos
mesmos tratantes de sempre do mercado editorial no Brasil.
É necessário que os leitores de hq’s,sejam de DC,Marvel ou
mangas,aprendam com esses reprováveis exemplos.Tentem perceber o quanto uma editora precisa ser desorganizada para fazer com que um sucesso no mundo inteiro,como é essa história,fracasse desse jeito!.Ao invés de achar que "isso é coisa do mercado nacional".E parem de aceitar que os problemas
como cancelamentos,formatos toscos,preços impraticáveis e planos editoriais
destrambelhados sejam transferidos para justamente quem não tem nada a ver com
isso;o leitor.
Agora nos resta torcer para que o autor não se recuse por um
longo tempo a liberar os direitos,tendo em vista o passado lamentável de
fracassos anteriores.Talvez alguma editora,mesmo que não seja a Nova
Sampa,resolva Lançá-la em formato igual ao de sagas como Berserk e Rurouni
Kenshin(papel off-set e preço entre 14,90 e 16,90),que são bem mais viáveis
para uma série com a qualidade de Vagabond.Eu ainda espero ter o prazer de
saber onde termina a jornada de Musashi.
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