The Walking Dead foi lançado em outubro de 2003 pela Image Comics tendo Tony
Moore (números 1 a
6) e Charlie Adlard (número 7 até o presente) nos desenhos, e Robert Kirkman no roteiro. Em 2006 a 33° edição bateu seu
recorde de venda, o que abriu caminho para a tão famosa série do canal AMC. O
apelo da historia é simplesmente inegável: do dia para a noite estamos
ambientados num mundo destruído, sem comida, energia segurança ou qualquer traço
de conforto.
A
construção do cenário é feita valendo-se de uma colcha de retalhos feita de
situações, personagens e tramas tiradas de filmes que abusaram do tema
anteriormente. Por mais contraditório que pareça, eu não li os quadrinhos. Mas a
proposta da série me atraiu bem como deve ter atraído outros milhões de
pessoas, sendo elas leitores ou não. Mesmo vivendo numa época conturbada em que a
indústria de quadrinhos usa de recursos cada vez mais apelativos e manjados, voçê
consegue imaginar como uma revista totalmente desconhecida, sem super-heróis e
impressa em preto e branco conquistou tanta popularidade? Pois é, esse é o
tamanho do sucesso de Walking Dead.
O que me
fez escrever este texto não foi o fato de ser um fã incondicional desse
universo dos mortos,e sim ter percebido nos poucos episódios e edições que li
elementos comuns nesse tipo de trama: uma incongruência bem simples de ser
percebida.
Todo
mundo já assistiu algum filme onde pessoas se encontram numa situação de ameaça
ou catástrofe iminente certo? Então pelo menos uma vez você deve ter se irritado
com as decisões idiotas tomadas pelos protagonistas em momentos perigo crônico. O
raciocínio torto, a escolha do caminho notoriamente mais difícil ou sacrifícios
sem pé nem cabeça justificados por uma nobreza que beira a estupidez. Pois saiba
que isso é praticamente uma regra no mundo do entretenimento americano.
Filmes
como Armageddon, Impacto Profundo e O Dia Depois de Amanhã acabam tirando sua atenção
do suspense com uma súbita risada involuntária ou mesmo a sensação de “o que
diabo foi isso?” E isso acontece por um motivo bem simples e conveniente: os produtores
e roteiristas querem convencer o espectador da forma mais forçada possível que
o povo americano é capaz de ser amável e sentimental,mesmo nas situações mais
urgentes.
Não
importa se uma explosão vulcânica ameaça lançar uma nuvem mortal sobre a atmosfera. Uma
horda de zumbis avança pelas ruas estraçalhando quem estiver no caminho. Ou que a
terrível nova era glacial faça sua carne e sangue virar gelo. Sempre dá pra
parar um pouquinho e por aqueles sentimentos conflitantes em dia. Discutir a
relação depois daquela briga com sua adorável namoradinha de infância. Juntar
coragem para dizer o quanto a ama desde que a viu pela primeira vez ou então
reaproximar-se do pai que já não via a um bom tempo. São momentos tão lindos
nesses filmes que podem parar o tempo enquanto rochas fumegantes caem sobre
cabeças de pobres coitados do elenco de apoio. Afinal de contas quem se importa
com eles não é mesmo?
Todas essas inconsistências gritantes me fazem acreditar que se houvesse a chance de alguém escapar da morte,dificilmente seriam pessoas inseguras,choronas e burras que conseguiriam essa façanha.
Apesar
dos clichês e personagens devidamente acomodados em seus respectivos estereótipos, dos
momentos que remetem ao mais do mesmo de filmes e de passagens como aquela dos
primeiros episódios onde americanos despreocupados comem marshmallows e
conversam sobre seu estilo de vida em volta de uma fogueira, no escuro e virados
de costas para uma floresta tenebrosa. A série merece ser vista. Entendo que a ideia
de “pessoas comuns em situações extremas” é usada sempre para facilitar nas
tramas e oferecer o ponto de vista “humano”. Mas alguns autores deveriam lembrar
que ser humano não significa necessariamente ser estúpido ou irracional.
Mesmo que
você não tenha a intenção de assistir todos os episódios,mesmo que produção mostre
sequências com diálogos longos e arrastados e acabe sendo esticada para render
doze temporadas só pra vender uma avalanche de produtos derivados,a série ainda
possui méritos na execução muito bem acabada, efeitos e maquiagem excelentes. Com
várias outras melhores sendo exibidas, ainda é possível parar para vê-la um
pouco. Nem que seja só pra saber com eles vão sair daquela enrascada.Ah! E o tema
de abertura composta por Bear McCreary também não é de se jogar fora.
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