Por: Hds
Com esse "é hora de termos uma conversa" a Mulher maravilha está até parecendo aquela sua namorada chata! Lá vem sermão pela frente... |
A Mulher Maravilha sempre foi uma das
personagens mais ilógicas das histórias em quadrinhos. Seu criador, o inventor
William Moulton Marston, encheu sua origem de detalhes incongruentes que
fizeram com que a heroína se tornasse uma verdadeira aberração contraditória. Quem
melhor definiu isso foi o escritor Mark Waid quando disse que ela deveria ter
vindo da ilha paradoxo e não da ilha paraíso.
Alguns personagens de quadrinhos têm uma
biografia completamente desconexa, mas com o tempo e os ajustes feitos por
escritores competentes, esses problemas podem ser reduzidos. O melhor exemplo
disso é o Homem-Aranha. Sua origem tem furos de lógica gritantes que foram ao
longo de décadas (mesmo que com atraso) sendo sanados. Com a Mulher Maravilha a
coisa não foi bem assim.
Desde 2009 foi anunciado que o escritor Grant
Morrison faria algo ligado à amazona, mas somente agora vemos o projeto sair. Morrison
é conhecido por inserir temas e discussões ligadas a causas sociais. Em
Homem-Animal tivemos ecologia. Nos Novos X-Men tivemos islamismo, preconceito e
homossexualidade. E em histórias como os Invisíveis tivemos tudo junto ao mesmo
tempo, uma coletânea de mensagens alienativas embaladas em referências pop, bizarrices
e muito desespero em parecer "descolado".
Numa entrevista à revista Publishers
Weekly, o escritor adiantou que já está trabalhando no segundo volume de Mulher
Maravilha: Terra Um. A série deve ter um total de três volumes. Além
disso,falou de sua intenção em abordar temas como: feminismo, cultura queer
(seja lá o que diabo isso signifique) e transexualismo.
Logo na capa do 1º número da nova série a Mulher Maravilha aparece acorrentada. Nem Grant Morrison conseguiu mudar a sina que amazona carrega. |
É verdade que a personagem foi criada por
Marston para ser uma feminista, mas é muita forçação de barra apontar traços de
cultura poligâmica, alternativa ou mesmo queer, cujo conceito talvez nem
existisse naquela época.
Aliás, Morrison está sendo bastante
conveniente quando cita características originais da Mulher Maravilha como
motivação para seus quadrinhos, já que ele mesmo costuma alterar bastante os
heróis que escreve quando isso lhe convém. O melhor exemplo disso foram as
alterações feitas no personagem Fera dos X-men. O mutante não somente mudou de
aparência física, como apresentou dúvidas antes inexistentes sobre sua
sexualidade. Aparentemente o escritor escocês só se preocupa em ser fiel à
origem de uma figura quando ela possui ideias que batam com suas ambições
narrativas, quando não as possui ele simplesmente os transforma naquilo que
quer!
Saudade da Mulher-Maravilha de Deodato? Eu não... |
Diana foi criada numa ilha onde só havia
mulheres que rejeitavam a figura masculina, mas saiu de lá vestindo, ao invés
de trajes de luta, roupas curtas nas cores da bandeira americana e uma minissaia.
Quando o piloto Steve Trevor caiu na ilha
paraíso ela, por ter ganhado habilidades e sabedoria dos deuses (agindo de modo
contrário a sua cultura), chegou a se apaixonar por um homem. Quando finalmente
chega a Terra, a princesa ganha uma função nada admirável para uma guerreira
treinada desde pequena: se torna uma enfermeira! Nada mais contraditório!
Moulton queria criar uma heroína feminista,mas colocava-a em várias situações amarrada ou sendo atacada por objetos de formatos "simbólicos".Vai entender! |
Grant Morrison já deixou claro que pretende ir além da proposta
original para a personagem, e até conversou com Yanick Paquette para que o
desenhista evitasse ao máximo representar objetos fálicos nas páginas da
revista.
Certo. Este é o ponto em que devemos fazer
a seguinte pergunta para o escritor: em que isso vai ajudar a produzir boas
histórias? Dá pra imaginar a falta do que fazer de um roteirista que se preocupa
com detalhes inúteis como esse, ao invés de se concentrar em entregar o melhor
material possível para os leitores daquele quadrinho?
Se Morrison quer realmente uma personagem
com elementos femininos fortes por que então chamou logo Yanick Paquette, um artista
famoso por desenhar mulheres com apelo em atributos físicos e sensualidade?
A Mulher Maravilha de Yanick Paquette faz caras e biquinhos no estilo erótico das personagens de Milo Manara,isso, com certeza, vai atrair os leitores masculinos. Mas por outros motivos... |
Morrison ressalta que há alguns anos atrás "não havia um debate tão intenso destas
questões" e que "nós
estamos sendo fiéis à origem da personagem".
Por "não havia um debate tão
intenso" entenda-se: a DC vendo que o escritor estava empolgado demais acabou
botando rédeas nele, não permitindo que alterasse as histórias de modo radical.
E na época em que ele propôs as ideias que tinha, as editoras não haviam
mergulhado de cabeça na modinha de atirar para todos os lados em que a Marvel e
a própria DC se encontram hoje, fazendo média com minorias e modificando seus
heróis (pra pior!) em nome do politicamente correto.
Como os editores brasileiros adoram os
discursos engajados do autor e os leitores agem como macacos de imitação dos
erros que os americanos cometem (chegando a mostrar o mesmo tipo de
receptividade para um quadrinho), esta fase da Mulher Maravilha está vendendo
bem nos EUA e vai vender bem aqui.
Por mim, prefiro ler somente alguns
trabalhos antigos de Morrison e esquivar dessa panfletagem barata recheada de
causas "nobres". Se o escritor escocês quer transformar suas revistas
num comício para abordar assuntos irrelevantes para esse meio de entretenimento
o problema é todo dele, mas eu é que não vou ficar na platéia assistindo.
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